quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Os primeiros programas infantis da Globo

Hoje resolvi fazer um post sobre os primeiros programas infantis da Globo. Mas não vou falar sobre aqueles programas batidos, tipo Vila Sésamo ou Globinho, embora esse último até mereça um post futuramente. Vamos falar daqueles esquecidos, que estão nas profundezas do conhecimento televisivo. Chega desse prólogo chato e sigamos ao que interessa:

UNI DUNI TÊ
Começando bem do começo (rs), o Uni Duni Tê não foi só o primeiro programa infantil da Globo como foi também o primeiro programa a ser exibido pela emissora como um todo. Entrando no ar pontualmente ás 11 da manhã no dia 26 de abril de 1965, a professora Fernanda Barbosa Teixeira, a Tia Fernanda para os íntimos, dava lições, brincava, lanchava (característica marcante era o constante copo de leite bebido na refeição) e rezava com os seus alunos. Tudo bem simples, com um cenário de sala de aula comum: o quadro negro e as carteiras escolares feitas de madeira marcavam presença na cenografia. Fernanda viajou aos Estados Unidos com a produção do programa para fazer um estágio após o processo de seleção para escolher a professora da atração. Ela não era o único adulto presente na sala de aula: o maestro Armando Ângelo atendia por senhorita música (???), sempre junto ao seu piano atendendo aos chamados das crianças. Essas, por sua vez, podiam enviar cartas e desenhos a produção. O horário sempre foi muito incerto, mas durante quase 4 anos, a aula era certa de segunda a sexta-feira. Saiu da grade em 31 de dezembro de 1968.

CAPITÃO FURACÃO
Uni Duni Tê não foi a única estreia daquele dia. O fim de tarde reservava mais uma surpresa para  o público infantil. E que surpresa! Quem entrava no ar de segunda a sexta, sempre às 17h era o capitão Furacão, personagem interpretado durante 6 anos por Piettro Mário. Os próximos 120 minutos ficavam por conta de suas histórias nas viagens que havia feito e desenhos animados, e o sucesso foi imediato. O público podia fazer parte da tripulação: ao enviar para a produção uma foto e rótulo de um produto dos patrocinadores da atração (na época Confeitaria Gerbô e calças Furacão), era recebida uma carteirinha de grumete. Em um mês, 3 mil crianças já haviam entrado para o clube (Ao final, eram mais de 10 mil). Caravanas eram organizadas com destino aos estúdios para crianças verem o programa e interagir com o capitão. A partir de 1967, Elizangela (sim, a atriz) entrou como apresentadora, sendo a fiel assistente de Furacão. A cenografia era basicamente a cabine do navio do capitão, com um figurino inconfundível: jaqueta azul e quepe, além de uma longa barba branca. Havia "platéia" para realização de gincanas, que junto com as histórias logo foram sendo diminuídas afim de priorizar a exibição dos desenhos e curta-metragens, mas mantendo as lições e incentivos educativos dos apresentadores. O encerramento ficava a cargo do Capitão, sempre com um "Sempre alerta e obediente". Capitão Furacão foi o 1º grande sucesso de audiência da TV Globo, sendo dirigido e produzido por Hélio Tys. Saiu do ar em 31 de dezembro de 1970.

ZÁS-TRÁS
A estreia de Zás-Trás se deu também em 26 de abril de 1965 - porém era exibido apenas em São Paulo pela TV Paulista, com apresentação de Márcia Cardeal e Aristides Molina, o "Titio", um "herói" do programa. A redação era de Renato Correia e Castro com direção de Renan Alvez, tendo como fórmula brincadeiras e desenhos animados. Apenas praticamente 4 anos depois da sua estreia, em 7 de abril de 1969 começou a ser transmitido para os cariocas, sempre de segunda a sexta na faixa das 11h30 da manhã com uma hora de duração. Nesse período, o núcleo de produção se transferiu para o Rio de Janeiro, deixando Márcia de lado e colocando Ted Boy Marino à frente da atração, apresentando apenas filmes e desenhos animados. Em 31 de julho de 1970 o programa abandonou a grade e só retornou em 3 de julho de 1972 no horário das 16h, onde era exibido de segunda a sexta com 2h15min de duração. Márcia voltou a apresentação ao lado de Guto (?). O tempo era basicamente preenchido por seriados estrangeiros como "Terra de Gigantes", "Túnel do Tempo", "Tarzan", "Bip Bip Show" e "Família Dó Ré Mi". Alguns seriados já eram exibidos a cores de forma experimental, mas a fase durou pouco: Em 20 de outubro foi encerrada, e deu seu lugar ao sucesso Vila Sésamo.

O MUNDO MÁGICO DE ALAKAZAN
Com estreia em 2 de maio de 1965, e permanecendo sempre às 18h30 do domingo, o programa produzido por Paulo Monroe tinha meia hora de duração, sendo dividido em duas partes: a primeira era feita nos Estados Unidos com a apresentação de um show de mágica, e a outra ao vivo do estúdio B da Globo, como um programa de auditório apresentado por Hélio Ribeiro, tendo participação de crianças e palhaços que brincavam com a platéia. Saiu do ar ainda em dezembro daquele ano.


CLUBE DO TITIO
Estreou em 2 de fevereiro de 1966, sendo exibido sempre aos sábados, com horário variado, mas se mantendo às manhãs, tendo sido o mais constante entre 12h e 13h. Gravado no auditório da TV Globo, o programa também distribuía prêmios aos telespectadores. Teve sua última exibição em 2 de novembro de 1966.












AS AVENTURAS DE EDUARDINHO
Simplesmente ninguém sabe que dia estreou, mas foi em 1966. Originalmente exibido na TV Excelsior com idealização de Vicente Sesso, o seriado passou a ser produzido pela Globo naquele ano e exibido aos sábados às 19h. A trama envolvia situações da atualidade da época com folclore nacional e internacional, com crianças que a cada episódio encontravam personagens históricos ou escritores famosos após longas aventuras. Praticamente um plágio do Sítio do Picapau Amarelo, Cada episódio contava com participações especiais de diversos atores, além do elenco fixo. Foi a estreia do ator Marcos Paulo na TV Globo, com Dennis Carvalho interpretando o personagem-título. As gravações eram feitas em São Paulo e editadas no Rio de Janeiro. Saiu do ar em 1968.



LILICO & COCÉGAS
Programa de humor voltado as crianças que estreou em 29 de novembro de 1969, com os humoristas Lilico e Rony Cocégas, entrando no ar às 18h e permanecendo meia hora na grade dos sábados. O programa de estreia homenageou os 1000 gols de Pelé, como se vê no anúncio ao lado. Saiu do ar em 28 de fevereiro de 1970.













TOPO GIGIO ESPECIAL
O ratinho lançado no programa de auditório "Mister Show" fez tanto sucesso que angariou um programa só seu, estreando em 28 de novembro de 1970, aos sábados, sempre às 13h30. Suas histórias eram orientações às crianças para suas obrigações cotidianas, como escovar os dentes ou fazer orações. Comum eram participações de artistas, como Elizangela e o grupo TheFevers. A mais recorrente era a de Agildo Ribeiro, sempre cantando cantigas da época com o ratinho. Sempre ao encerrar o programa, Topo Gigio aparecia de pijama para dar um boa noite cinderela nas crianças. Saiu do ar em 6 de fevereiro de 1971.


LINGUINHA X MR. YES
Estreando em 11 de outubro de 1971, Chico Anysio protagonizava esse seriado que tinha apenas 8 minutos: era exibido entre o Jornal Nacional e a novela das 8, O Homem Que Deve Morrer (mais precisamente às 20h). Chico interpretava Harrey Carrey do Nascimento, um homem comum que se transformava em super-herói ao colocar a língua pra fora, daí o nome Linguinha. O grande inimigo, como o próprio título sugere, era o Mr. Yes, personagem de Luiz Delfino, que tinha várias gangues a seu serviço (Uma delas era a Marajoaras, liderada por um chefe cruel, interpretado por Iran Lima). O objetivo principal do vilão era dominar o mundo com a poluição do ar. Vários outros personagens rondavam a história, como o velho hippie Lingote, pai de Linguinha, interpretado pelo próprio Chico Anysio, tendo características únicas: viciado em vitaminas, gostava das músicas de Valdick Soriano e Carlos Galhardo, tomava elixir paregórico e misturava sal de frutas com leite de magnésia. Tinha como bordão a frase: "Bateu pra tu?". Grande Otelo marcava presença no elenco, usando uma peruca arrepiada: ele interpretava Cassius Ali, um homem que elaborava truques dos filmes de James Bond. Nizo Neto, filho de Chico, fez uma ponta como um menino de rua. Jorge Lorêdo, o famoso Zé Bonitinho, também esteve no seriado, como um bandido que repetia 5 vezes a mesma frase. Linguinha era um bom exemplo: não brigava ou matava, nem portava armas. Nunca saía de casa sem escovar os dentes, tomar banho e pentear os cabelos. A audiência correspondeu positivamente e a repercussão foi além das expectativas: o gesto da língua era repetido a todo momento pelas crianças, além de um lançamento de trilha sonora do programa, em vinil (lógico), contendo 12 faixas, cantadas pelos mais diversos artistas. Uma curiosidade interessante: a cenografia se virou como pode para produzir as máquinas que eram usadas por Mr. Yes afim de concretizar seus planos, guardar num laboratório sempre reabastecido de novas engenhocas. Também era gasto muito gelo seco, simulando a fumaça poluída que dominaria o mundo. Com redação de Arnaud Rodrigues e direção de João Lorêdo, o seriado teve seu último capítulo em abril de 1972.

IMAGENS DE Memória Globo, InfanTV, blog Daileon e januzzi.net
INFOS DE Memória Globo, Almanaque da TV Globo e Dicionário da TV Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário