sábado, 9 de dezembro de 2017

TV Pirata: A biografia não autorizada


De 1981 até 1987, Jô Soares ocupou o horário nobre pós-novela das 8 das segundas-feiras, na Globo. O seu programa, Viva o Gordo, se tornou rapidamente um sucesso. Os tipos do humorista de peso - com o perdão do trocadilho - fizeram milhões de espectadores caírem na gargalhada, tendo até merecido um DVD duplo, lançado em 2009 pela Globo Marcas. Mal o mês de outubro de 1987 começara, quando Jô Soares acertou sua ida para à TVS, o hoje SBT. A chegada na nova emissora foi tamanha, que Silvio Santos chegou a interromper o telejornal Noticentro para anunciar a contratação do humorista, no dia 23 de mesmo mês. Além de continuar com seu programa de humor tradicional (que viria a se chamar Veja o Gordo), ele também apresentaria um talk-show (Jô Soares Onze e Meia).

A saída não foi tão imediata. Jô cumpriu com seu contrato na emissora dos Marinho: permaneceu por lá até a apresentação do último Viva o Gordo, em 15 de dezembro de 1987. Uma possível vingança da Globo teria acontecido nesse meio tempo: A exibição da edição de 2 de novembro de 1987 do Viva o Gordo teria sido cancelada sob a justificativa de ser dia de finados (Embora em 1981 e 1985, Finados tenha sido em segundas-feiras e não houveram mudanças na grade) e realocar Jô excepcionalmente na terça. De qualquer forma, uma nova atração de humor teria que dar as caras na Globo, para não deixar o gênero desfalcado na emissora.


A ideia de Guel Arraes era traduzir para a televisão um humor já muito comum no Rio de Janeiro, como o do Teatro Besteirol. Os 10 atores do TV Pirata, em sua formação original de 1988 (listados a seguir em ordem alfabética: Cláudia Raia, Cristina Pereira,  Débora Bloch, Diogo Viela, Guilherme Karan, Louise Cardoso, Luiz Fernando Guimarães, Marco Nanini, Ney Latorraca, e Regina Casé) não eram humoristas, e sim atores. 

Eles davam vida as mais variadas situações e personagens vindas dos textos de, entre outros, Patrícya Travassos, Luis Fernando Verissimo, Miguel Falabella, Pedro Cardoso (sim, o Agostinho d'A Grande Família), Felipe Pinheiro, Cláudio Paiva (esse também a cargo da redação final), Mauro Rasi, Vicente Pereira e o pessoal do Casseta & Planeta (mais abaixo). Tudo sob direção do 1º nome citado neste paragráfo, recém saído de 3 temporadas de Armação Ilimitada. O projeto foi aprovado. Ali se iniciava o TV Pirata.


Até 1988, o humor que o brasileiro estava acostumado a assistir na TV, ou ouvir no rádio, seguia uma linha repetitiva: diferentes personagens, cada qual com seus trejeitos e falas diferentes. De acompanhamento, a claque: as risadas ao fundo enquanto as piadas vão sendo encenadas. Em 1977, os estudantes de engenharia Beto Silva, Hélio de la Peña e Marcelo Madureira (na época ainda sem a alcunha atribuída a eles na linha anterior) criaram o "jornal Casseta Popular". A publicação era uma resposta ao movimento estudantil da época, rançoso e "rabugento". E também uma maneira de puxar papo com as garotas da universidade. Segundo Hélio de la Peña, houve uma vez em que "O pessoal do MR-8 se sentiu muito incomodado e entrou numa de querer transformar a Casseta num jornal “dos estudantes”. Tanto que uma vez a gente saiu para o recreio e no mural de avisos havia uma convocação de reunião de pauta da Casseta Popular. Como assim?! Aí os caras disseram: “Se é dos estudantes, é de todo mundo, todo mundo tem direito”. Fomos logo avisando que ninguém tinha direito a nada e os caras foram chamando a gente de autoritário." (Mundo Estranho, 03/2005). Mas não era tão fácil manter a periodicidade do jornal: era necessário vender tudo de um número para produção do próximo. Em 1980, a convite dos integrantes originais, Bussunda e Cláudio Manoel vieram dar um reforço a turma. A 1ª publicação com a participação de Bussunda foi polêmica: após um acidente aéreo da VASP (que deixou 137 mortos com a queda de um boeing), a capa da "Casseta" trazia recortes de partes do corpo humano seguidas da legenda: "Monte aqui seu passageiro da VASP". O lançamento foi um grande alarde: praticamente uma invasão na UFRJ, meia dúzia de barbados em trajes circenses marchavam em torno de uma banda de baile de carnaval (Bussunda, A Vida do Casseta, 2010).

Desde 1974, o cartunista Reinaldo Azevedo publicava n'O Pasquim suas obras. Em 1978, foi a vez da estreia de Hubert. Em 1984, eles se juntaram com Cláudio Paiva, outro redator e cartunista d'O Pasquim, e lançam o tablóide mensal "O Planeta Diário". Como colaboradores, o pessoal da "Casseta". Posteriormente, a editora d'O Planeta" serviria para a outra trupe. Em outubro de 1987, Hubert, Marcelo Madureira e Reinaldo criaram e roteirizaram o especial "Wandergleyson Show"“Finalmente um Programa de Humor Engraçado”, foi a chamada provocativa e ousada para o Wandergleysson Show, que foi ao ar no dia 13 de dezembro, tendo como protagonista o ator até então quase anônimo, Luiz Fernando Guimarães, conhecido apenas como “aquele que aparece nos comerciais da Caixa Econômica Federal”. (Casseta.com.br). A fórmula de esquetes rápidas e diversificadas junto a paródias de televisão seria reutilizada no ano seguinte, no TV Pirata. A fita do especial foi assistida por Boni. Ele gostou do que viu e prontamente chamou as duas turmas para participar da redação do programa citado anteriormente. A fusão dos dois grupos também ocorreria em 1988, com o show musical "Eu Vou Tirar Você Desse Lugar". No mesmo ano, lançaram a candidatura do Macaco Tião - um  chimpanzé de verdade - para a prefeitura do Rio. O macaco chegou a alcançar o 3º lugar nas eleições. Em 1989, lançaram o disco "Preto Com Um Buraco no Meio", com o sucesso "Mãe é Mãe", composição que irritou as feministas daqueles tempos. O álbum fez sucesso da mesma maneira.

Logo do Wandergleyson Show.
Merece destaque também, o grupo "
Asdrúbal Trouxe o Trombone", um grupo de teatro jovem, definido pela desconstrução da dramaturgia, a interpretação despojada e a criação coletiva, idealizado pelos futuros atores de Cambalacho Luiz Fernando Guimarães e Regina Casé, utilizando da improvisação e dos recursos físicos próprios para interpretar as personagens. Sua referência também foi influente no formato do TV Pirata.






1988
Na noite de 5 de abril de 1988, entrou no ar o 1º programa do TV Pirata. Tudo era novo na televisão: não tinha claque, não tinha um segmento correto. Era necessário prestar atenção: o detalhe de 20 segundos atrás pode ser necessário para o entendimento da piada agora. Neste 'piloto' foram exibidos um total de 33 quadros e esquetes. A audiência correspondeu bem, e se manteve estável na casa dos 30 pontos pra cima no resto do ano. Mas nem tudo eram flores: apenas 2 programa depois da estréia, a novidade global sofreu críticas dos principais humoristas do país. "Meu programa é feito de esquetes longos e rápidos, e não sei em que muda a estrutura quando eles fazem esquetes rápidos e longos que se alternam. Não vejo nada de novo nisso", declarou Jô Soares para a Folha de S. Paulo de 17 de abril de 1988. Ainda, na entrevista, ele confessou não ter assistido o programa nas 2 vezes em que o mesmo foi apresentado. Agildo Ribeiro, concorrente direto do TV Pirata no horário de exibição, comentou que "O humor do TV Pirata deverá viver do bom trabalho dos atores, da direção e, principalmente, dos redatores". João Kléber não gostou do que viu: "Em determinados quadros, fica-se sem saber o que vai rolar, fica indefinido", disse. "Para João Kleber, o que falta no TV Pirata é humorista. 'Não importa quem seja', porque no duelo entre um humorista e um ator, o primeiro leva vantagem, diz ele". Mas isso não afetou o programa em nada. Afinal, como dito no anúncio de página inteira, publicado pela Globo na Folha de S. Paulo do mesmo dia: "Não dá pra ver a concorrência. Nem de luneta". A própria Hebe disse que achou o TV Pirata "uma gracinha".

Tudo ia muito bem quando alguns problemas começaram a atravessar o sinal da TV Pirata. No programa nº 8, exibido em 24 de maio de 1988, a atriz Cristina Pereira participou de uma esquete, onde satirizava o jingle da companhia aérea VASP. Com imagens de aviões caindo, a música seguia: "Atenção, você com estas malas na mão/ encomende o seu caixão/ não perca este avião/ você indo pelo ar, com quem bota pra quebrar". Por fim, o locutor Ciro Jatene em off diz: "Terroristas aéreos palestinos: voe pelos ares com a gente". Segundo nota no Jornal do Brasil, em 27 de maio de 1988, "O presidente da Vasp, Sidney Franco Rocha, assistiu ao programa TV Pirata, da Rede Globo, na última terça-feira e, entre surpreso e perplexo, não gostou do que viu. Franco da Rocha chegou a pensar em processar a Rede Globo por causa de uma paródia que os redatores da TV Pirata fizeram com o jingle promocional da Vasp, composto por Théo de Barros. (...) Para o presidente da Vasp, o quadro da TV Pirata é uma "sátira de mau gosto, que abalou a imagem da empresa". Franco da Rocha chegou a pedir que sua assessoria jurídica estudasse uma forma de processar a Rede Globo. Mais cautelosa, a SGB, agência de propaganda responsável pelo comercial, vai pesquisar os danos que a paródia pode ter causado à Imagem da companhia aérea para tomar alguma decisão". Nada de maiores consequências.

1 mês e meio depois, mais problemas. Segundo o Jornal do Brasil de 12 de julho de 1988, "Das duas uma: ou a Globo corta do humorístico TV Pirata a minissérie "Hospital de Base", com estréia anunciada para o programa desta noite ou terá que responder, depois, a uma ação penal por calúnia e difamação. O ultimato é do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal, que entrou ontem com um pedido de liminar na Justiça, para a suspensão do quadro que ironiza o Hospital de Base de Brasília (...) Apontado como tentativa de modificar a desgastada fórmula dos programas humorísticos da televisão brasileira, o TV Pirata não está sendo original ao satirizar o Hospital de Base. Antes, Jô Soares já havia internado lá um de seus personagens. A má fama nacional do hospital começou a partir da via crucis de Tancredo Neves, internado com uma diverticulite no dia 14 de março de 85, véspera de sua posse na Presidência da República, e falecido cinco semanas depois, no Instituto do Coração, em São Paulo, vítima de infecção generalizada". A Globo acabou cedendo, e mudou o nome do quadro para Hospital Geral. Sem maiores problemas, a esquete ficou até o fim da temporada 88 do programa.

Nem tudo são problemas. Personagens de sucesso trilharam na temporada 1988 do TV Pirata. Gulherme Karan foi inesquecível como Zeca Bordoada, o rabugento apresentador do "TV Macho", paródia do "TV Mulher". Sempre com respostas na ponta da língua para seus convidados, ele terminava o quadro, na maioria das vezes, de uma forma inesperada: quebrando a câmera, e o câmera. O velhinho Barbosa, interpretado por Ney Latorraca também merece menção. O tarado totalmente esclerosado, com um bico cada dia maior, só abria a boca pra repetir a última palavra dita por outra pessoa. Beijava na boca a filha e a socialite vilã da novela Fogo no Rabo (paródia da novela "Roda de Fogo", exibida 2 anos antes): outro quadro de grande repercussão. O galã Reginaldo, interpretado por Luiz Fernando Guimarães era o motivo de disputa entre Penelope, a tal socialite vilã (vivida por Cláudia Raia) e a filha pobre de Barbosa, Nathália (vivida por Débora Bloch). Para conquista-lo as duas chegavam a apelar até pra macumba! Detalhe marcante: Ao pronunciar o nome do galã da novela, Reginaldo, tocava-se ao fundo o refrão "Como Uma Deusa...", sucesso na época, presente na trilha nacional de Mandala. Lembremos também da lésbica Tonhão, vivida por Cláudia Raia, no quadro "As Presidiárias". Um papel um tanto quanto incomum para a atriz, sempre acostumada a viver o tipo "sex symbol". Deixo por fim, a abertura original do TV Pirata, que marcou época: um bando de piratas invadem uma emissora de TV, fazem a maior bagunça, e por fim conseguem invadir o sinal, colocando a fita de sua programação.


Tamanho sucesso levou Regina Casé a ser capa
da edição de 27 de julho de 1988 da VEJA.

O 1º ano do TV Pirata contou com 38 episódios, sendo 3 deles temáticos, o nº 17 tratou exclusivamente sobre violência, o nº 30 teve quadros focados somente em músicas, e o nº 38, especial de Natal, com uma hora e dez minutos; meia hora mais longo que os programas normais. Além disso, reprisou os melhores momentos do ano em 27 de dezembro de 1988, em especial de título "As 14 Mais". Apresentando ótimos indicies de audiência, com médias em torno de 37 pontos naquele ano, e picos de 44, o TV Pirata foi confirmado para o ano seguinte.



        






1989
O 2º ano do TV Pirata chegava em 28 de março de 1989. As novidades já eram previstas pelo Jornal do Brasil, em 6 de fevereiro daquele ano: "Reginaldo, Agronopoulos, Zeca Bordoada, Tonhão, Detetive Pestana, Natália e tantos outros personagens consagrados do "TV Pirata", no ano passado, vão ficar na saudade. Foram todos definitivamente arremessados ao lixo, sem dó nem piedade. Maluquice da equipe do programa? Claro que não. O que "TV Pirata" quer, na verdade, é entrar em 1989 surpreendendo os telespectadores, totalmente nonsense e irreverente como sempre foi. Por isso, nenhum quadro já conhecido do público, ainda que tenha sido um retumbante sucesso, será repetido. A única menção honrosa vai para Barbosa, o velho babão repetitivo da novela "Fogo no rabo", brilhantemente encarnado por Ney Latorraca. Sua fugaz e solitária aparição ocorrerá no terceiro "TV Pirata" do ano, com um programa de entrevistas: "Barbosa nove e meia". - A regra, a gente já sabe qual é argumenta Cláudio Paiva, o redator do programa. - Sabemos que dá certo. O bom é descobrir outras coisas, mostrar ao público que o programa tem movimento. (...) Se no ano passado um dos grandes marcos do programa foi a novela "Fogo no Rabo", agora, será a vez de "Rala Rala", uma novela rural. O índio Cleverson (Luís Fernando Guimarães) é o último descendente da tribo dos "Rala Rala", exterminada pela malvada Dona Menina (Cristina Pereira), integrante da UDR. Cleverson luta pelo seu direito à terra e, na cidade de Trubuçu do Norte, com um clima bem faroeste-tupiniquim, os conflitos mais absurdos podem acontecer. Um dos problemas é a falta de professoras e a saída é encomendar uma, na cidade grande. Quando ela chega, porém, descobre-se que sua única vocação é para o ensino de educação física. Burrinha, mas "boazuda como a Barbie", segundo Paiva, Danielle Aparecida (Débora Bloch) vai penar. (...) Mas a novela ainda trará uma nova atração: a integração do ator Pedro Paulo Rangel à equipe de TV Pirata. Pedro entra na vaga deixada por Marco Nanini, e será o Dr. Lúcio, um veterinário-psicanalista que tem como paciente Suely (Louise Cardoso), a filha retardada de Dona Menina. Todo o elenco de "TV Pirata" estará em "Rala Rala" que, pelos novos planos, deve durar bem menos de um ano. - A idéia é fazer pelo menos duas novelas por ano - adianta Paiva, que também anuncia a entrada de novas minisséries no ar, igualmente mais curtas". 
     
A novela Rala Rala foi realmente curta: em julho de 1989, já tinha acabado, para no mês seguinte dar lugar a próxima atração: "Prisão de Ventre". O 1º programa do ano foi intitulado de "Milionário Esperança", uma sátira ao show beneficente "Criança Esperança". Na temporada 1989 não faltaram episódios temáticos: o 5º do ano foi uma sátira ao filme "Janela Indiscreta", intitulada "Janela do Espanto |||", e mais tarde vieram especiais sobre "Sexo" e "Cinema". No decorrer da temporada, Regina Casé e e Ney Latorraca tiveram de se afastar do programa. Ela, por licença maternidade. Ele, por motivos desconhecidos.

1990
A temporada 1990 do TV Pirata prometia: a abertura daquele ano foi gravada e editada em Miami. Saía Cláudia Raia, Louise Cardoso e Ney Latorraca para darem lugar a Denise Fraga, Maria Zilda Bethlem e ao retorno de Marco Nanini. Mas dançou: o lançamento do Plano Collor dificultou as cotas comerciais dos intervalos (a TV Pirata passou de 4 pra 3), e a concorrência com Pantanal foi tirando pontos de toda a linha de shows da Globo, que trazia novidades naquele ano, como Linha Direta e Delegacia de Mulheres. Além disso, uma troca de dias na linha de shows foi desfeita: o Globo Repórter chegou a ser exibido nas terças por 2 meses, e o TV Pirata, das terças foi pras quintas. Tudo desfeito na última semana de maio, mas sem efeito nenhum. A Globo chegou a trocar o programa por minisséries, filmes, programas especiais, mas não deu jeito: após 14 programas, o TV Pirata chegava ao fim, em 31 de julho de 1990. Mas uma mudança de planos antecipou o final do programa, que acabou sendo em 24 de julho de 1990, uma semana antes do previsto. O roteiro do que seria o programa do dia 31 foi originalmente rasgado, refeito e falaria sobre drogas. Foi gravado, editado, mas acabou engaveto, sendo nunca exibido na telinha. A Globo chegou a pensar em retornar com o programa em novembro, mas isso não aconteceu. O destaque do ano ficou com a novela "A Perseguida", que nem chegou ao fim.

1992
Após uma pesquisa sobre qual programa de humor os brasileiros mais sentiam falta, o TV Pirata ostentava 1º lugar. A Globo então, decidiu retomar com o projeto, mas dentro da Terça Nobre, sendo assim com periodicidade mensal. Outro programa, "fruto" do TV Pirata e que havia sido exibido na Terça Nobre em 1991, foi o Dóris Para Maiores, com o pessoal do "Casseta & Planeta", agora em frente as câmeras. Em 1992, finalmente eles estreavam seu programa solo, com o nome do grupo, também na Terça Nobre, mas continuavam como redatores do novo TV Pirata. Agora o programa teria um tema a cada mês, e no elenco entravam Antônio Calloni, Marisa Orth e Otávio Augusto, este último recém saído de Vamp. Do elenco original, restavam apenas Débora Bloch e Guilherme Karan. Segue a lista dos programas exibidos neste ano:

21/04/1992 | Episódio 1 - Escândalo!
12/05/1992 | Episódio 2 - Humanidade
09/06/1992 | Episódio 3 - Internacional
07/07/1992 | Episódio 4 - Quem Matou Barbosa? [reprise 02/03/1993]
11/08/1992 | Episódio 5 - Sessão da Tarde
15/09/1992 | Episódio 6 - Amor
20/10/1992 | Episódio 7 - Os Sete Pecados Capitais
17/11/1992 | Episódio 8 - Nitroglicerina Pura [reprise 05/01/1993]
08/12/1992 | Episódio 9 - Capítulo Final [reprise 30/03/1993]

Infelizmente, o programa não garantiu vaga na programação de 1993, e foi limado da programação de vez. Foram 100 programas que marcaram época.

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     REPRISES NO BRASIL
     O TV Pirata ganhou um espaço muito forte dentro da televisão brasileira, e muitas vezes acaba sendo reprisado nas mais variadas ocasiões.

NO MULTISHOW, EM 2005
Em comemoração aos 40 anos da Globo. Foram reexibidos os 34 primeiros episódios de 1988, alguns com cortes de esquetes.

NO CANAL VIVA, EM 2011
A temporada 1988 infelizmente tem vários episódios pulados, inclusive o primeiro. Na semana seguinte à exibição do programa original de 10/07/1990, a reprise voltou para o de 12/04/1988, e se encerrou com o especial de melhores momentos de 1989 (19/12/1989).

NOVAMENTE NO CANAL VIVA, EM 2016
A temporada 1988, novamente com os mesmos episódios pulados na exibição de 2011.

NO VÍDEO SHOW
Nas mais diversas ocasiões ocorrem reprises de esquetes soltas, ou de quadros que possuíam continuidade.

DVDs
A Globo Marcas lançou 2 DVDs duplos do TV Pirata, e 1 disco extra:

TV PIRATA (DUPLO) - 2004
As melhores esquetes do TV Pirata. No 1º disco, uma seleção dos melhores momentos do programa. No 2º, a novela "Fogo no Rabo" completa e os episódios de "O Segredo de Darcy", esquete de 1990. O 1º disco foi relançado em 2005 sob o título de AS MELHORES PIADAS.

TV PIRATA NOVELAS - 2014
Edição com as novelas da TV Pirata em 2 discos: "Fogo no Rabo", "Rala Rala", "Prisão de Ventre" e "Sabrina, os Diamantes Não São Para Comer". Como extras, "A Perseguida" e "Rainha da Mamata", ambas da derradeira temporada de 1990.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Zelda Scott deixou Juba & Lula em 1989 e a coisa degringolou

Juba & Lula. Quem foi dos anos 80 se arrepia ao ouvir esses nomes. Já vem a música incidental do "Armação Ilimitada" na cabeça do indivíduo. Virando e mexendo na tela, de forma não muito frequente, mas sempre às sextas-feiras depois da novela, o show desses dois é lembrado até hoje pelos fãs. Tanto que em 2005, pouco antes de fazer 20 anos, o seriado ganhou reprise duas vezes por semana no Multishow, quatro contando com os horários alternativos. Mas se você já ficou extasiado, achando que vou fazer aqui um panorama de Armação, sinto dizer que está enganado. Exceto nesta frase que segue, não será citado nenhuma Zelda Scott, nenhum Bacana, nenhuma Ronalda Cristina, nenhum Chefe, e muito menos uma DJ Black Boy. Mas, pra introduzir o programa Juba & Lula, é mais que necessário saber um pouco sobre a história de Armação. Vamos que vamos.

UM TRIÂNGULO DE BERMUDAS
No longínquo 1985, a abertura política estava praticamente consolidada. A censura já não tinha mais tanto poder sobre a TV, e a ordem era inovar, em tudo. E aí, partindo da vontade de querer surfar e se aventurar por qualquer lugar que fosse, Kadu Moliterno e André D' Biase apresentaram a ideia de um seriado radical para o diretor Daniel Filho. A ideia surgiu como? Depois de uma sessão de surf dos dois. As reuniões para decisão de outros fatores que influenciaram no programa foi algo totalmente pertinente ao que se veria posteriormente na tela: grupos jovens ao lado da dupla protagonista à postos para expor suas ideias. O nome foi decidido no banheiro. Ou melhor, quando Daniel Filho voltou do banheiro. Segundo D' Biase, foi dali que, literalmente, a ideia do título saiu: 'Já tenho o nome. Isso é uma armação ilimitada, vocês querem fazer esse programa só para pegar onda'. A estreia foi no dia 17/05/1985.

A MAIOR ONDA
Esse foi o título do último episódio de "Armação Ilimitada", totalizando 40 programas, exibido em 08/12/1988. Naquele ano, o seriado enfrentou a pior crise de sua existência. A frequência quinzenal gerava problemas para as ilhas de edição, que ficavam congestionadas (eram necessárias 40 horas para a produção de um episódio), e para as gravações, que envolviam muitas cenas de perigo e cenários peculiares. Não deu outra: após 2 episódios em abril de 88 (000007 contra o Doutor Fantástico de 07/04/1988 e O Cavalo Branco de Napoleão de 21/04/1988), o seriado foi suspenso: e só voltaria em setembro. Nesse meio tempo, as reprises de praxe tamparam o sufoco do show de sexta-feira. Dentre esse período nada confortável, boatos que os atores principais estariam negociando uma ida ao SBT tomaram conta da imprensa, o que foi desmentido pelo próprio D'Biase posteriormente. As gravações retornaram para o episódio Bacana, a Alegria do Povo, exibido no dia 01/09/1988. Agora o seriado seria mensal, o que realmente aconteceu. Hoje é Dia de Rock e Totalmente Demais (06/10/1988 e 24/11/1988, respectivamente) vieram como uma temporada de consolação afim de entregar o fim do seriado, conforme já dito. Era o fim...

... OU NÃO
Quer dizer, Armação terminou mesmo. Mas a dupla do seriado continuava firme e forte. Programado para estrear no dia 20/03/1989, "Juba & Lula" retornaria com a ilustre dupla radical de Armação, agora com um enfoque maior na ecologia. A direção vinha de Roberto Talma. Os 4 blocos iniciais seriam uma gincana entre jovens, entre 11 e 17 anos. O 5º seria uma 'aventura', renovada a cada semana, com 5 capítulos cada uma. No dia 17 daquele mês, os atores receberam o primeiro texto, proveniente de Ronaldo Santos e Charles Peixoto, esse último sendo o único que ficou de Armação. Mas esse texto demorou pra ir ao ar. O seriado foi remanejado para 8 de maio, e mais tarde ficou pra 5 de junho, justamente no Dia Internacional do Meio Ambiente. Além disso, a data vinha a calhar, por cobrir um período onde muitas crianças entram em férias.

FALHOU
Após o 1º episódio, as críticas foram bizarras: pensando se tratar de um novo Armação, as pessoas sentiram falta das doses mais pervertidas da dupla, reclamando da exposição de tanta ecologia. A audiência também não foi das melhores (Disponibilizo abaixo gráficos de audiência do seriado), e isso não compensava o alto custo de produção. Estes fatores levaram Boni a decisão de retirar o programa da grade de programação. Roberto Talma lutou pela permanência do programa: quando a saída foi anunciada, em 5 de julho, já haviam mais 6 histórias prontas para ir ao ar, o correspondente a 30 capítulos. Para tentar salvar a atração, ainda que tarde, as partidas realizadas no cenário fixo do programa, seriam substituídas por partidas de esportes aleatórios em quadras poliesportivas de vários pontos do país. Mas realmente não deu certo. Era o fim, o 2º fim.

AUDIÊNCIAS
Para uma análise mais completa, deixo gráficos de audiência do programa. Os dados são provenientes das tabelas que constam no site da AEL/UNICAMP, e correspondem a região de São Paulo. Para ampliar, é só clicar na imagem.
P.S.: como não encontrei dados da 6ª e da 8ª semana nas tabelas, eles não foram inclusos.










Com informações de:
Acervo Folha de S. Paulo
Acervo Jornal do Brasil
Acervo Estadão
Memória Globo
Dicionário da TV Globo
Almanaque da TV Globo
Site Canal VIVA 
AEL/UNICAMP

Fotos:
Acervo Folha de S. Paulo
Acervo Jornal do Brasil
VIVA Play

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Valeu, amizadinha?

Malu Mulher extasiava e entusiasmava as mulheres do fim da década de 1970, cada vez mais motivadas a buscar os seus direitos, quebrando tabus existentes até então. Mas segundo a própria Globo, a "pregação política" de Malu já não dava mais certo na grade para seguir uma nova temporada em 1981. Surge então Amizade Colorida, onde a a luta de Malu (Regina Duarte), era substituída pelas aventuras cômicas e incertezas do fotógrafo Eduardo Lusceno (Antônio Fagundes), um típico esteriótipo de "machão". Ele aceita qualquer trabalho pra faturar um, especialmente se for com alguma beldade. Mesmo machista, ele o rejeita, e tenta aprender a viver numa sociedade onde a mulher tem seu espaço. O nome do produto não seria Amizade Colorida, e sim Edu Homem. Mas a Globo, com medo de uma reação equivocada do movimento feminista, que poderiam considerar aquilo uma provocação às mesmas, trocou o título.

Edu: Classe média, 32 anos, 1.81m, 80 quilos, bigodes negros e sotaque paulista.
Os textos do seriado eram escritos por Armando Costa, Bráulio Pedroso, Domingos de Oliveira e Lenita Plonczynski. Esta última escreveu o que foi escolhido para abrir o seriado, em 20/04/1981: "Isso Acontece". Seria, na verdade, o texto intitulado como "Voo Livre", que foi deslocado para o terceiro da série (intitulado então como "Vertigem nas Alturas"). De toda forma, o terceiro programa foi o primeiro a ser gravado. Até 26/02/1981, a equipe de redatores já havia entregue 4 episódios. Além dos 2 já citados, se enquadram neste grupo "Barriga" e "Das Dificuldades de Ser Homem". Estava tudo certo pra entrar no ar... ou não. Por que será?

Foram extintas da programação as famosas Malu Mulher e Carga Pesada (com o próprio Antônio Fagundes). Para essa última, foi criada Obrigado, Doutor com Francisco Cuoco. Nos dias restantes, ficavam as veteranas O Bem Amado e Plantão de Polícia. Criar o seriado que mais tarde se tornaria Amizade Colorida surgiu da própria cúpula da Globo, que já considerava Malu chata. Para justificar ao público, a desculpa para o fim da personagem na telinha foi o "esgotamento temático". Chuvas de cartas pedindo a permanência do programa da personagem foram em vão e a Globo não voltou atrás. Sentia-se na emissora a vontade de fazer agora um produto focado no homem e na sua visão de mundo, após tanto tempo demonstrando os sentimentos e a percepção de Malu. De inicio, foi pensado um "negativo do feminismo": ainda falar sobre a vida das mulheres, suas condições, afazeres e sentimentos, mas sob a ótica masculina. Esse seria o Edu porco, que acabou evoluindo em 90 dias de reuniões dos redatores para construção do personagem. Ele acabou se tornando uma junção de todos os tipos de homem: uma junção de visões que ia do padre ao michê. Até o dia da estreia, a série era tratada como mistério. Ninguém sabia de que diabos seria, utilizando uma expressão dita pela jornalista Maria Helena Dutra ao se referir ao seriado. Segue uma breve síntese do que foi apresentado pelo seriado no curto período em que esteve no ar.

ISSO ACONTECE
Era 20/04/1981. No episódio inicial, Edu sofre com impotência sexual ao ter um caso com uma modelo. O título do capítulo faz jus ao acontecido: "Isso Acontece". A estreia foi criticada, como sempre acontece. Muitos disseram que o seriado estava no país errado, que Edu não tinha dramas na vida. Outros já diziam que não dava pra saber se a série era carioca ou paulista, que as características do personagem não foram apresentadas como deveriam (algo que pode ser explicado pela troca de roteiros para a estreia). E, finalizando, que o primeiro episódio foi esquecível. Mas nem todos falaram mal: teve gente que elogiou, que gostou pelo fato de não ser uma réplica a Malu Mulher e sim um novo argumento. O ritmo acelerado e as boas interpretações garantiram bons elogios também. Ficou no meio-termo: para uma opinião formada integralmente, era necessário que viessem as cenas do próximo capítulo. E elas vieram, em 27/04/1980.
 
BARRIGA
Às 22h10 daquele dia, logo depois do Viva o Gordo, entrava no ar o capítulo intitulado de "Barriga". Foi escrito pelo próprio Antônio Fagundes. Nesse, Edu acaba engravidando uma de suas amizades, Mônica (participação especial de Lúcia Torres) e contra a vontade da mesma, assume a paternidade da futura criança. A recusa da futura mamãe é justificada pela participação de Edu se resumir apenas ao ato sexual. Ele decide “engravidar” também: lê obsessivamente sobre gravidez, usa uma barriga falsa para sentir a dor na coluna e chega até a ir a um ginecologista, que o expulsa achando se tratar de um maluco. Dessa vez não houve tanta negatividade para a personagem: o contexto em que o enredo da paternidade foi exposto no capítulo foi chamado de original e agradou aos críticos.

VERTIGEM NAS ALTURAS
Para o 3º episódio, no dia 04/05/1981, foi escalado o roteiro original de Bráulio Pedroso que seria o primeiro episódio do seriado; intitulado anteriormente de "Voo Livre", ficou como "Vertigem Nas Alturas". Após impotência e gravidez, Edu agora tem medo de altura. Ele quer conquistar Patrícia, participação especial de Cristiane Torloni, que faz o tipo esportivo. O pai desta, rico que só ele, pode financiar um projeto fotográfico do protagonista, e pra conseguir essa grana Edu vai tentar superar o medo de altura para realizar uma das acrobacias favoritas da filha do magnata: saltar de asa delta. Para tentar superar o medo de altura, ele passa a subir diariamente uma escada de mão dentro de seu apartamento, referência ao filme Um Corpo que Cai, de Alfred Hitchcock. No final do programa, ele acaba se arriscando a voar de asa-delta. O episódio foi criticado negativamente, acusado de ter um 'enredo falho'. O destaque para os críticos, foram as belas imagens aéreas que foram mostradas no programa. Foi o único episódio do programa visto por Daniel Filho.

DAS DIFICULDADES DE SER HOMEM
Segunda feira, 11/05/1981. Dia de Amizade Colorida! A bola da vez era "Das Dificuldades de Ser Homem", um roteiro de Domingos de Oliveira. Ironia do destino, ou não, Edu se envolve com uma feminista, bem no tipo Malu Mulher. Ela é Sônia (participação especial de Renée de Vielmond), uma produtora de moda bem sucedida profissionalmente. Aparentemente, o episódio não apresentou reações nem negativas quanto positivas. A expectativa maior era uma melhora em relação ao episódio anterior, duramente criticado.


GATINHAS E GATÕES
Polêmica a vista! Dia 18/05/1981, o programa Amizade Colorida apresenta ao público o capítulo de nome "Gatinhas e Gatões", roteiro de Lenita Plonczynski. Edu se envolve simultaneamente com mãe e filha: a arquiteta Lúcia Siqueira (Tamara Taxman) e Bebel (Carla Camuratti), respectivamente. Lúcia, esta mulher, é desquitada - tem uma filha de 17 anos (segundo informa a quem interessar possa) que ela educa na tese da liberdade responsável. Trocando em miúdos: Bebel, a filha, sabe que a mãe teve e continuará tendo diversos parceiros sexuais, mas tudo é feito com relativo recato. Assim que Edu entra naquela casa luxuosa, construída e decorada para um modo descontraído de viver, é posto para dormir num sofá na pérgula da piscina, a pretexto de que no quarto de Lúcia pegaria mal. Bebel iria estranhar. Ele acorda com Bebel ensaiando (muito mal, diga-se de passagem), passos de balé à beira da piscina. Daí para diante, desenvolve-se uma competição entre filha e mãe, pelo gatão compreensivelmente gratificado. Freud explica. Edu, que como se sabe é fotógrafo profissional, propõe Bebel a uma agência de propaganda, para um anúncio de geladeira. O trabalho de fotografar a gatinha muito sexy, em poses e trajes provocativos beijando e afagando a geladeira, acaba transferido para onde se poderia imaginar. Lúcia, desconfiada, leva o pai, que leva a polícia, para flagrar o crime de sedução de uma menor. Que tinha 13 anos, conforme revela na delegacia, e passava por 17 para não envelhecer a mãe. Bebel, portanto, já podia transar com quem bem entendesse, sem criar embaraços legais para o seu eventual eleito. Eventual? Lúcia já havia tirado um namorado de Bebel. Alguma dúvida que deu problema? Claro que não. Oito mulheres de São Paulo entregaram ao ministro da justiça, na época Ibrahim Abi-Ackel, um manifesto com 100 mil assinaturas, onde se diziamm contra a comercialização do sexo na televisão e quaisquer mídias, além de medidas urgentes contra a "onda de pornografia" que abalava a estrutura familiar. O ministro classificou como um "cochilo" a liberação do roteiro de "Gatinhas e Gatões". Autoridades competentes relataram reclamações telefônicas vindas de vários pontos do país a respeito do programa exibido naquela semana. A censura, mesmo com a abertura política, voltou a ficar mais rigorosa após o lamentável caso. Um dos redatores, Armando Costa, declarou estranheza pelos protestos, visto que o programa era exibido em horário tardio e destinado apenas a adultos. Em entrevista para a Folha de São Paulo de 23/05/1981, deu a entender que as aventuras sexuais de Edu passariam a ser reduzidas, e os dilemas masculinos passariam a ser tratados com mais abrangência. A justificativa, porém, não era por causa da polêmica gerada em cima do programa anterior, e sim pela "preocupação de escrever para 40 milhões de pessoas". Depois de tantas polêmicas, curiosamente, Armando Costa pediu para deixar a equipe de redatores por um tempo. A decisão foi tomada após a criação de uma "Comissão de Ética", anunciada por Roberto Irineu Marinho. O objetivo nada mais era do que exercer uma 'censura interna' da própria emissora.

BELEZA
Antônio Fagundes escrevera o roteiro "Beleza", escalado para ser exibido em 25/05/1981. Agora, os papéis se invertem: Edu vira modelo fotográfico. Se juntam as poses Débora Duarte (na foto ao lado), Ítalo Rossi e Maria Zilda. Nesse episódio, choveram cenas do Fagundes em trajes mínimos: uma provocação-resposta por tantos protestos na última semana.

BAGUNÇA MARÉ-BAIXA
Para 01/06/1981, o episódio de Amizade Colorida seria o roteiro de Antônio Fagundes "Bagunça". Seria. A censura cumpriu o prometido de ser mais severa e vetou quarenta e duas cenas do programa. Sem nexo, o roteiro tornava-se incompreensível e impossibilitado de ir ao ar. Mesmo anunciando este programa o dia inteiro, na última hora foi exibido "Maré Baixa". Antes da exibição, uma locução justificava os motivos da troca de episódio, e que a Globo impetrara um recurso junto ao Serviço de Censura Federal. Por ter sido exibido de última hora, não há dados sobre "Maré Baixa" em acervos digitais ou livros por mim pesquisados. Por causa dessa instabilidade, a Globo também deixou de divulgar resumos dos episódios aos jornais da época. Naqueles tempos, a faixa das Séries Brasileiras dava um descanso em julho, e já no inicio de junho, a Globo começou a pensar em limpar a Amizade de sua programação, tamanho o trabalho que ela dava.

BAGUNÇA
O recurso da Globo surtiu efeito. Em 08/06/1981, o anteriormente vetado "Bagunça" foi finalmente exibido. Assinado por Fagundes, nele Edu resolve viver com a namorada no seu apartamento. A vida vai se complicando e Edu vira uma verdadeira dona-de-casa, com tarefas e afazeres domésticos para cumprir. O que um enredo tão inocente poderia ter para ser censurado? Fica a duvida. A recepção foi boa tanto pelo público como pela crítica.






Nos dias 15 e 22/06/1981, foram apresentados os episódios TEMPORADA DE CAÇA e MULHER DE AMIGO É HOMEM. Como já dito, a instabilidade em relação a qual texto poderia ser exibido ou não, impossibilitava a Globo de divulgar resumo do programa da semana, sendo assim, não foram encontrados dados sobre esses episódios. Apenas foi descoberto que Vera Gimenez fez participação especial neste último, como a mulher de um amigo de Edu.

MAMÃE, EU QUERO
No dia 29/06/1981, a Globo encerrava a decadente passagem de Amizade Colorida na TV, com o roteiro "Mamãe, eu Quero", de Joaquim Assis. Segundo o Memória Globo, única fonte confiável que cita o episódio com um breve resumo, "a chegada inesperada da mãe de Edu transforma sua vida em um pandemônio". Não se sabe quem interpretou a tal mãe. No retorno das Séries Brasileiras, quem aguardava Amizade Colorida se decepcionou. Em seu lugar, Obrigado, Doutor, que passou das sextas para as segundas, dando seu posto original para um enlatado americano.

Curiosamente, entre 17 e 21/04/1995, a Globo reprisou episódios da série em horário vespertino (14h15), no Festival 30 anos. Não foram encontrados dados específicos sobre quais episódios foram exibidos neste período.

Com informações de:
Acervo Folha de S. Paulo
Acervo Jornal do Brasil
Memória Globo
Dicionário da TV Globo

Fotos:
Acervo Folha de S. Paulo
Acervo Jornal do Brasil
Memória Globo